HES realiza a 1ª neurocirurgia com paciente acordada do interior de SP

A primeira neurocirurgia do interior paulista para extração de tumor cerebral com a paciente acordada, através do Sistema Único de […]

Autor: admin

A primeira neurocirurgia do interior paulista para extração de tumor cerebral com a paciente acordada, através do Sistema Único de Saúde, foi realizada pelo Hospital Estadual de Sumaré, em setembro último. A recepcionista Jucelda Monteiro dos Santos, de 27 anos, passa muito bem e não apresentou nenhum tipo de seqüela. A melhor notícia é que todos os exames pós-operatórios atestam que o tumor benigno do tamanho de uma noz foi retirado integralmente. Nos casos que exigem um procedimento de alta complexidade como o de Jucelda, o custo gira em torno de R$ 100 mil em hospitais privados.

O motivo pelo qual se optou pela cirurgia com a paciente acordada foi devido à localização do tumor em uma importante área do sistema nervoso central. Segundo um dos responsáveis pelo procedimento, o neurocirurgião Marcos Vinicius Calfat Maldaun, a região escolhida pelo nódulo para se alojar é extremamente complexa. “Nas cirurgias convencionais, em que o paciente está anestesiado, não é possível localizar as áreas essenciais por estar imóvel. Com isso, o risco de seqüelas tanto na fala, quanto no movimento são muito grandes”, esclarece. Uma vez a paciente estando acordada é possível através da estimulação e testes neurolinguísticos precisar a extensão do tumor para retirá-lo integralmente e fazer um mapeamento de forma a não comprometer as regiões sensíveis.

Outra grande vantagem está em oferecer um pós-operatório menos traumático. “A paciente esteve apenas um dia na UTI e no segundo dia foi para o quarto. Em três dias, ela já pôde retornar ao convívio da família”, comemora Maldaun. Ele afirma que este tipo de procedimento é extremamente comum nos Estados Unidos, onde permaneceu um ano fazendo um estágio em neurocirurgia. “No Brasil, a infra-estrutura ainda é precária e esbarra em procedimentos burocráticos”, comenta. Realizar a cirurgia pelo SUS, no entanto, foi um grande marco na história do hospital. “Esperamos ser a primeira de muitas outras. A expectativa é realizar 10 operações semelhantes em 2006”, garante.

Ele destaca ainda que o apoio da administração do hospital foi fundamental. “Para este tipo de cirurgia é imprescindível equipamentos de ponta, infra-estrutura apropriada e equipe devidamente treinada. Foi necessário um ano para que se conseguisse chegar a uma situação adequada”, lembra o neurocirurgião. “Isto prova que é possível se fazer bom uso da verba disponível no SUS. Os recursos existem e o que se precisa é boa vontade”, atestou o diretor clínico do HES, o neurocirurgião Helder José Lessa Zambeli.

Vida nova – Ser a escolhida para a primeira neurocirurgia do interior paulista feita com a paciente acordada era algo que não estava nos planos da recepcionista Jucelda. Noiva e freqüentando o curso técnico de Radiologia, de repente viu sua vida mudar ao ser protagonista de um episódio inusitado. Durante as quatro horas no centro cirúrgico, Jucelda pôde até mesmo “brincar” com a equipe médica, o que deixou o ambiente descontraído. “Me senti muito aliviada quando vi que tudo havia terminado. Meus movimentos e fala estavam perfeitos”, declara animada.

Sua mãe, dona Hilda, também dificilmente irá esquecer o dia em que presenciou o sofrimento de sua filha ao descobrir que precisaria passar por tal situação. “Eu me apeguei muito a Deus e sabia que tudo correria bem”, afirma. A vontade de vencer a doença fez com que a recepcionista fosse um exemplo de coragem. Com vida nova, Jucelda se prepara para terminar o curso que teve que interromper e, animada, também começará os preparativos do casamento, que garante será no próximo ano.