O Hospital Estadual Sumaré (HES-Unicamp) comemorou a marca de 10 neurocirurgias para ressecção (extração) de tumor cerebral com pacientes acordados. A décima cirurgia de alta complexidade foi realizada em uma paciente de 34 anos e moradora de Itatiba, que tinha um tumor cerebral na área esquerda, denominado astrocitoma difuso. Dos 10 pacientes, nove estão curados e um continua em tratamento. Em 2006, o HES-Unicamp foi o primeiro hospital público do interior do Estado a realizar esse tipo de procedimento. A cirurgia com a paciente acordada é a melhor alternativa devido à localização do tumor em uma importante área do sistema nervoso central. Os procedimentos tem o apoio da Secretaria de Estado da Saúde.
Segundo o responsável pelo procedimento, o neurocirurgião Marcos Vinicius Calfat Maldaun, a cirurgia com a paciente acordada é empregada devido à localização do tumor em uma importante área do sistema nervoso central. “Nas cirurgias convencionais, em que o paciente está anestesiado, não é possível localizar as áreas essenciais por estar imóvel. Com isso, o risco de sequelas tanto na fala, quanto no movimento são muito grandes”, esclarece Marcos que é Ph.d nesse tipo de procedimento pelo MD Anderson Cancer Center, em Houston, Texas, e realiza esse tipo de procedimento no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Uma vez a paciente estando acordada é possível através da estimulação e testes neurolinguísticos precisar a extensão do tumor para retirá-lo integralmente e fazer um mapeamento de forma a não comprometer as regiões sensíveis. “Todas as cirurgias foram bem sucedidas, sem qualquer intercorrência”, diz Helder Zambelli, diretor clínico do HES-Unicamp e integrante da equipe. As cirurgias duram em média quatro horas e contam com uma equipe de oito especialistas, além de equipamentos específicos para esse tipo de cirurgia, como ultrasom intra-operatório e neuroestimulador cerebral que auxiliaram na extração do tumor.
Segundo Maldaun o procedimento consiste em sedação leve da paciente com anestesia local no couro cabeludo e com a retirada de osso (craniotomia). Em seguida, a equipe realiza um exame de ultrasom sobre a superfície do cérebro para o mapeamento preciso do tumor e suas áreas de abrangência, tudo com o paciente acordado que faz testes de linguagens conversando com a equipe médica. “Buscamos conversar bastante com a paciente inclusive sobre projetos pessoais e familiares como estratégia de avaliação pela equipe do andamento da cirurgia”, destaca o neurocirurgião. Em todos o procedimentos o anestesista responsável é o coordenador dos testes neurolinguísticos durante a cirurgia.
A próxima etapa na cirurgia, explica, é a estimulação das várias partes do cérebro expostas com mapeamento funcional (neuroestimulador), onde se identifica quais áreas correspondem ao centro da fala e do movimento. Somente após essas etapas é que de fato começa a extração do tumor, com a preservação integral dessas áreas e com a manutenção de um diálogo permanente com a paciente. Terminada a extração do tumor, a paciente é novamente sedada para recolocação do osso do crânio (preservado em uma solução especial durante a cirurgia) e suturada. Todos os pacientes operados fazem controle com exames de tomografia no hospital e as cidades de origem são: Americana, Campinas, Sumaré, Hortolândia, Itatiba, Jaguariúna, Lages (SC) e Jundiaí.
Esse tipo de um procedimento de alta complexidade tem um custo estimando em torno de R$ 50 mil nos hospitais privados. “Isto prova que é possível se fazer bom uso da verba disponível no SUS. Os recursos existem e o que se precisa é boa vontade”, destaca o diretor-superintendente do HES, professor Lair Zambon. De acordo com Zambon existe um projeto junto a Secretaria de Estado da Saúde de transformar o hospital em um centro de referência do interior do Estado para neurocirurgias de alta complexidade.
Caius Lucilius com Paula Conceição